As Raízes Ocultas do Bolchevismo
Por Stephen E. Flowers, The Occult Roots of Bolchevism. Tradução de Ícaro Aron Soares.
Filosofia e Teoria Marxista
Enquanto as ideias de Fedorov eram difundidas privadamente e em segredo durante grande parte do século XIX, a ideologia de Marx e Engels era publicada em formas amplamente disseminadas e vigorosamente promovidas.
O Bolchevismo se tornaria um ramo específico do Marxismo. Mas não se pode entender o Bolchevismo sem primeiro entender a filosofia subjacente de Karl Marx. Por sua vez, a essência do Marxismo deve ser vista como um desenvolvimento posterior da filosofia de Georg W. F. Hegel. Hegel é mais conhecido por seu desenvolvimento da ideia da dialética: tese-antítese e síntese. Hegel era, no entanto, também um *idealista*. Os chamados jovens hegelianos que eram de uma forma ou de outra estudantes de Hegel combinavam a dialética com o Materialismo puramente positivista, rejeitando todas as formas de "Idealismo" que pudessem implicar que havia mais no mundo que pudesse ser visto, pesado e medido. O Marxismo tem raízes filosóficas profundas que parecem remontar aos epicuristas gregos, sobre os quais Marx escreveu sua dissertação de doutorado.
Já na conclusão do século XVIII, toda a ordem medieval do pensamento europeu estava sendo seriamente questionada por certos pensadores, especialmente na França. Entre eles estavam homens como Jean-Jacques Rousseau, o Marquês de Sade e Julien Offray de la Mettrie. Todos eles eram rebeldes ou dissidentes espirituais ou intelectuais sérios. O Diabo ou Satan, visto como o rebelde arquetípico contra a ordem predominante do mundo, fez dele um símbolo perene da revolução no século XIX. Isso era verdade mesmo entre os revolucionários materialistas/positivistas que também viam Satan como um herói.
A antiga filosofia do Epicurismo foi revivida em meados do século XIX, alimentada por uma nova forma de Materialismo teoricamente pioneira de Julien Offray de la Mettrie. Críticos e filólogos alemães já haviam lançado grandes dúvidas sobre a verdade da Bíblia. Deus foi questionado em todas as frentes. Este novo Materialismo seria fundido com a filosofia de Georg Hegel e todo o sistema seria então projetado no mundo da ação econômica e política. A afirmação de que o universo material é tudo o que existe, e qualquer noção de um reino metafísico é puramente uma aberração ou ilusão, é em si mesma uma questão de fé em algo invisível ou inaparente. Na prática, o Materialismo radical é tão "místico" quanto o Espiritualismo, e a história mostrou que ele não é mais "científico" do que a teologia e muitas vezes não é tão eficaz. Coisas que são científicas são verificáveis e repetíveis. Elas são os resultados da aplicação de um princípio científico que resulta em resultados confiáveis e previsíveis. Esse nunca foi o caso historicamente no que diz respeito à aplicação dos princípios marxistas.
Os materialistas do século XIX eram todos revolucionários rebeldes — intelectuais e também políticos. Em toda a Europa, governava um Rei, Kaiser ou Czar, e sua própria justificativa política para seu lugar no mundo político era que eles foram colocados em suas posições por Deus. Uma vez que suas posições políticas eram expressas em metáforas bíblicas em culturas que foram dominadas por séculos por imagens cristãs, não é surpreendente que, quando suas posições eram questionadas, seus críticos pudessem até mesmo tender a mostrar uma quantidade avassaladora de simpatia pelo Diabo.
As Teorias Esotéricas de Karl Marx
Karl Marx não inventou o Socialismo, o Comunismo ou o Materialismo Histórico, mas foi um sintetizador e codificador original de uma série de ideias filosóficas, econômicas e sociopolíticas em um todo teoricamente coerente. Essa ideologia pôde então ser utilizada e disseminada com mais força do que jamais havia sido o caso, com a associação informal de conceitos que marcaram movimentos pré-marxistas relacionados.
Uma análise histórica cuidadosa mostra que as profundas raízes ocultas do Marxismo na verdade estão na filosofia hermética. Erica Lagalisse (2019) aponta para o trabalho de Glenn Magee (2002) como traçando as origens herméticas do pensamento de Hegel, e a partir das teorias de Hegel sobre a dialética, Marx desenvolveu os princípios subjacentes de sua dialética histórica ou materialista. Na história das ideias, pode-se dizer que Marx materializou ou secularizou a filosofia de Hegel, que era originalmente muito mais próxima do Idealismo de Platão. Isso é um reflexo da tendência geral da filosofia em direção ao Materialismo ou "Positivismo" ao longo do século XIX.
Marx nasceu em Trier, Alemanha, em 5 de maio de 1818, em uma família etnicamente judia (Berlim 1963 pp. 21-22). Seu pai, Heinrich, havia se convertido ao Luteranismo no ano imediatamente anterior ao nascimento de Karl. O garoto foi criado inteiramente na fé luterana e era diligente em seus estudos religiosos. Em 1835, ele começou a estudar Direito em Bonn, mas se transferiu para Berlim no ano seguinte. Ali, ele foi rapidamente "convertido" ao estudo da filosofia sob a influência dos "Jovens Hegelianos". Este era o grupo de intelectuais engajados na tarefa de transformar os princípios do *Idealismo* histórico de Hegel em "Materialismo* histórico.
Era seu plano original se tornar um professor universitário. Marx escreveu sua dissertação de doutorado sobre a filosofia dos epicuristas, que foram os primeiros proponentes de uma cosmologia materialista. A vigilância política prussiana e o policiamento do mundo acadêmico em Berlim e nos vários estados alemães no leste forçaram Marx a ir para o oeste, para Saarbrücken, onde conheceu um homem chamado Moisés Hess, que era um nacionalista judeu socialista (precursor do Sionismo). Diz-se que Hess teve influência significativa em Marx e Engels, mas foi deixado para trás enquanto os outros dois desenvolviam sua filosofia do Comunismo. Marx logo se tornou o editor de um jornal liberal, o *Rheinische Zeitung (Jornal da Renânia)*, onde Moisés Hess trabalhava e o jornal foi significativamente radicalizado. O jornal foi suprimido pelo governo e Marx teve que fugir para Paris, mas também foi expulso da França em 1845, eventualmente se estabelecendo na Inglaterra. Em 1848, Marx escreveu uma de suas duas principais obras — em colaboração com Engels — O Manifesto do Partido Comunista. Ele viveu o resto de sua vida em relativa obscuridade em Londres.
Em 1864, o primeiro congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores foi realizado em Londres. Esta era uma federação de vários sindicatos e organizações radicais. Marx foi capaz de exercer uma tremenda quantidade de influência sobre este grupo. Ele impôs sua visão de uma federação internacional e disciplinada de organizações radicais com a intenção de destruir a sociedade capitalista. Por ele ter princípios geralmente autoritários, Marx se opôs ao plano proposto pelo anarquista russo Mikail Bakunin, que era na época um pensador quase tão prestigioso quanto Marx.
Marx começou a publicar sua segunda grande obra, e *magnum opus*, intitulada *O Capital: Uma Crítica da Economia Política (em alemão: Das Kapital: Kritik der politischen Ökonomie) em 1867. Este era apenas o primeiro do que chegaria a quatro volumes, com os últimos três volumes sendo publicados após sua morte a partir de extensas notas editadas por seu parceiro intelectual, Friedrich Engels. Esta obra ponderosa estava repleta de fórmulas matemáticas complexas provando que suas teorias de Materialismo Histórico, Economia e Dialética Histórica eram *corretas* em um sentido virtualmente "matemático".
Perto do fim de sua vida, Marx desenvolveu alguns laços mais próximos com os comunistas russos. Mas antes que esses laços pudessem ser explorados, ele faleceu em Londres em 14 de março de 1883. Ele está enterrado no Cemitério de Highgate. Na maior parte, seu trabalho permaneceu teórico e amplamente impraticável, mas dentro dele estava codificada uma fórmula para ganhar poder político. Seria necessária a astúcia implacável de Lênin para colocar suas teorias em uso prático no movimento revolucionário na Rússia, culminando na derrubada do czar e no estabelecimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas após a Revolução de 1917.
Como é bem conhecido, a atitude de Marx em relação à religião tradicional era que ela deveria ser considerada "o ópio das massas". Em última análise, seria o ideal para a filosofia defendida por Marx substituir inteiramente aquela parte da vida humana anteriormente reservada para a "religião". Essa antipatia em relação à religião era, na verdade, apenas uma espécie de modo de pensar *avant-garde* popular nas universidades entre a elite acadêmica no início do século XIX. Ele se juntou a um grupo na Universidade de Berlim chamado *Doktorklub (Clube dos Doutores)*, que eram todos "Jovens Hegelianos". Seu objetivo era um programa ateísta destinado a destruir a superestrutura da autoridade conservadora. A religião era uma parte importante disso. Mais tarde, ele se concentrou em teorias econômicas juntamente com o Materialismo Histórico, mas Marx originalmente tinha uma visão da "redenção total da humanidade" (Riemer 1987, p.64), como ele indicou na introdução de sua *Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1844)*. O efeito da filosofia marxista pode ser chamado de "política profética", na qual uma *transformação* total do estado e do mundo é imaginada — e então promulgada.
Os primeiros temas do pensamento marxista, onde os fundamentos de suas motivações podem ser descobertos, foram chamados de faustianos e/ou prometeicos por natureza (Kolakowski 1981, pp.409; 412; 414). Até mesmo o observador casual terá notado as características quase religiosas do Marxismo, tanto como teoria quanto como tem sido praticado em vários países no século XX. Tudo isso é melhor revelado em seus próprios escritos iniciais, por exemplo, seu drama épico *Oulanem* (1837) e sua poesia. Em um desses poemas, "O Violinista ["Der Spielmann*] (1841), ele escreve:
Eis que meu sabre enegrecido de sangue apunhalará
Sem falta seu coração.
Deus não conhece nem honra a arte.
Ela sobe para o cérebro como vapores do Inferno.
Até que meu cérebro seja iludido e meu coração transformado:
Eu o comprei enquanto ainda estava vivo do Obscuro.
Ele marca o tempo para mim, ele dá os sinais;
deve correr mais ousadamente, loucamente na Marcha da Morte... (II. 17-24)
O Marxismo descreve um sistema que pode ser descrito como Materialismo Místico. Ele postula que a história é movida por uma subestrutura orgânica ou mecânica e que sua evolução é impelida não pela mente de *Deus*, como Hegel teria dito, mas por considerações exclusivamente *materialistas*, por exemplo, determinação puramente econômica do comportamento humano e a mudança causada por lutas entre *classes* economicamente determinadas na sociedade. Culturalmente, estamos agora tão profundamente submersos no pensamento marxista que o componente *místico* dessa ideia desapareceu de nossa consciência. O que, se não "Deus", é responsável por esse conjunto invisível de leis imutáveis e inexoráveis? Ao longo de toda a história, classes de pessoas — conforme determinado pelo status econômico — que estavam sem poder iriam, pela inevitável *força* dessa misteriosa dialética histórica, arrancar o poder daqueles que o têm no presente. Melhor dito, esse poder inevitavelmente seria transferido para eles, mas eles poderiam, se despertassem para as leis que Marx revela, apressar o processo por meio da Revolução. No final, o proletariado, pela força da dialética histórica, superaria o sistema capitalista maduro e à beira do apodrecimento.
Supostamente, a história, conforme determinada pela classe econômica, prosseguiria por estágios de desenvolvimento determinados mecanicamente pela dialética histórica. O primeiro nível é o das sociedades escravistas (como a Grécia e Roma antigas), estas foram inevitavelmente superadas pela ordem feudal e uma nova fase da história foi introduzida. A ordem feudal foi derrubada pelos capitalistas em conjunto com a Revolução Industrial. Os capitalistas poderosos exploram o proletariado relativamente impotente, mas inevitavelmente o proletariado desenvolverá seu poder e superará os capitalistas. Essas forças da dialética histórica trabalham mecânica e materialisticamente de acordo com certas fórmulas virtualmente matemáticas ou algébricas. O propósito e o papel da revolução socialista é meramente auxiliar a história em seu desenvolvimento. A Revolução então instala um estado *Socialista* que, por meio de (re)educação, força e, se necessário, genocídio, criará as circunstâncias para a chegada de um estado verdadeiramente *Comunista* — um no qual (teoricamente) nenhuma lei seria necessária, a propriedade seria mantida em comum e a paz mundial reinaria.
Marx sempre afirmou que suas teorias eram puramente "científicas" ou baseadas racionalmente, que ele meramente tinha a visão mais clara da mudança histórica e suas causas. Sua obra-prima, *Das Kapital* tem páginas de equações do tipo algébrico nas quais ele afirma delinear a certeza matemática e a *correção* de suas teorias econômicas e históricas. Essas equações matemáticas, e a certeza numérica que elas implicam, são a origem da própria ideia de "correção política/politicamente correto" que entrou no jargão popular hoje. Marx tentou afirmar que estava *correto*, não tanto em um sentido moral, mas em um matemático. Na verdade, suas equações elaboradas funcionavam não tanto como matemática, mas como sigilos mágicos destinados a deslumbrar a mente do leitor ou observador para se convencer de que Marx deve realmente estar correto.
Em sua forma mais simples, a equação marxista para determinar a correção política, que mais tarde foi aplicada fora das questões econômicas e dos conflitos de classe econômica para abranger todas as questões sociais, raciais, políticas, culturais e até mesmo *biológicas*, é:
Tempo
- Poder -> + Poder
Qualquer entidade, ser, organização, etc. relativamente carente de poder (aqui designado como *menos* poder) é *destinado* pela dialética histórica a herdar poder ao longo do tempo. "Os mansos herdarão a terra." Vista em um nível físico, essa equação vai contra a natureza. Normalmente as coisas se movem de alta pressão para baixa pressão, o poder é uma carga positiva que se move para um vácuo onde o poder está faltando. Esse tipo de *lex talonis/lei do talião* foi realmente usado por Lênin em situações táticas práticas, mas ao usar a teoria marxista ele foi capaz de tomar uma "posição moral elevada" teórica assumida como um movimento estratégico. A raiz de como isso poderia ser amplamente interpretado como uma posição moral elevada é encontrada na atitude aparentemente encontrada nas Bem-aventuranças ("O Sermão da Montanha"). Curiosamente, este texto parece ter sido geralmente mal interpretado por tradutores gregos que não entenderam bem o aramaico do original e que fizeram um "novo sentido" do texto.
O problema com o uso de termos como "matemático", "correto" ou "científico" em conexão com esses conceitos é que não há *nada científico sobre eles.* Eles são criações simbólicas, filosóficas e subjetivas que fazem seus apelos reais de uma forma poética, mítica e até mágica com base em quão *persuasivos* e atraentes eles são. Eles são inteiramente místicos, não científicos. Isso não significa que eles não sejam eficazes.
Como Marx teoricamente postulou, as mudanças que ele previu eram uma questão de inevitabilidade histórica. O Revolucionário está ali meramente para ajudar a história em sua marcha para o Socialismo e eventualmente para o Comunismo. Pode-se sempre argumentar que estar do lado do relativamente poderoso (+poder) é estar *do lado certo da história*. A própria frase "lado certo (=correto) da história" também está enraizada na teoria e no jargão marxistas.
Este modelo se tornou o *critério* para analisar quaisquer situações econômicas e baseadas em classe (e eventualmente todo e qualquer aspecto da sociedade e cultura). Em tal modelo, há sempre um opressor (+poder) e um oprimido (-poder) — ou um martelo e uma bigorna. O fato de que esta teoria é baseada em certos "critérios" se tornou a origem do uso do termo codificado "crítico" neste contexto. Quando a palavra "crítico" é usada, é uma referência codificada ao uso desses critérios teóricos, *ideológicos*, na análise. O termo funciona ainda mais "magicamente" porque está escondido atrás do uso mais convencional do termo, por exemplo, "pensamento crítico", significando que certos critérios objetivos ou lógicos são usados para analisar uma dada situação. Quando a ideologia (ou qualquer conjunto de presunções filosóficas) é usada como critério em vez da lógica real, alguns resultados incomuns se tornam possíveis. Pensar em termos de modelos ideológicos é talvez outra herança direta da Idade Média cristã.
Então, como tudo acontece, as teorias de Marx tiveram um efeito menos como uma profecia e mais como um encantamento mágico. Essencialmente, o modelo marxista de história parece estranhamente como o da tradição judaico-cristã — apenas seu agente causal foi reavaliado do "Plano de Deus" para a "Dialética Histórica" ou "Materialismo Histórico". No modelo judaico-cristão, há um período edênico inicial, quebrado pela transgressão do homem contra a lei de Deus. Isso é seguido por um longo período de tribulação terminado primeiro pela encarnação do Messias que traz o programa para a salvação — o Evangelium/Evangelho — que deve ser promulgado por seus seguidores terrestres (a Igreja). Uma vez que este programa tenha sido espalhado pelo mundo todo, o mal será vencido e um novo paraíso será estabelecido na Terra. A versão cristã disto é, claro, altamente espiritualizada e inteiramente dependente da vontade e da graça de Deus, enquanto a versão judaica parece mais materialista, mas igualmente dependente da vontade de Deus. O homem permanece em grande parte um espectador impotente nestes modelos. A visão marxista similarmente postula um período inicial de Comunismo Primitivo, quebrado pela instituição do conceito de propriedade privada (=Pecado Original) e trabalho escravo. Isto é seguido por sucessivos estágios econômicos de Feudalismo e Capitalismo. O começo do fim da fase capitalista é anunciado pela revelação da teoria marxista como um programa para a "Redenção". A essência deste novo evangelho é a teoria do Materialismo Histórico e, mais importante, seu mecanismo estrutural conhecido como *Dialética Histórica*. Este mecanismo determina o movimento revolucionário progressivo na socioeconomia de um estágio para o próximo. A progressão do modelo de estado escravocrata para o modelo capitalista, por exemplo, foi ilustrada em termos marxistas pelo exemplo de um grande evento histórico no século XIX: a Guerra Civil Americana, na qual o sistema capitalista do Norte prevaleceu sobre o sistema de estado escravocrata do Sul. Essa transição histórica deve ser promovida e até mesmo promulgada por revolucionários socialistas. Uma vez que a revolução se torne global em seu escopo, o Capitalismo será vencido e a sociedade comunista sem classes e aperfeiçoada será estabelecida na Terra. Paralelos entre as visões marxistas e cristãs e/ou judaicas da história foram postulados por vários acadêmicos no passado. (Veja Riemer, Karl Marx and Prophetic Politics, Karl Marx e a Política Profética, pp.11-12). Diz-se que Marx foi um excelente aluno em seus dias de escola na disciplina de *religião*.
O psicólogo político Wilfried Daim ofereceu este diagrama mostrando o modelo de visão cristã da história:
Visão Cristã da História: Paraíso -> Pecado Original -> Depois da Queda/Preparação para o Salvador -> O Salvador/Igreja -> Era da Igreja -> Juízo Final -> Céu/Inferno.
Daim (1958:175)
Com base nessa ideia, um modelo semelhante da visão marxista-leninista do desenvolvimento histórico pode ser proposto:
Visão Marxista-Leninista da História: Comunismo Primitivo -> Propriedade Privada -> Marx/Revolução -> Ditadura do Proletariado -> Comunismo -> Comunismo Mundial/Destruição da Burguesia.
Pode-se pensar que a teoria marxista já teria sido historicamente desacreditada há muito tempo, já que os sistemas políticos baseados nela falharam consistentemente e geralmente instituíram programas que eram ainda mais ineficientes e intolerantes do que aqueles que a teoria foi projetada para derrubar. O laboratório da história mostrou como o Marxismo funciona quando aplicado na prática, mas não funciona da maneira como Marx o imaginou ou previu que funcionaria. O Marxismo falhou no próprio teatro de operação que escolheu para si: a *História*. No entanto, é apenas como um *ideal* que o Marxismo falhou. Elementos do pensamento marxista definitivamente permearam profundamente a cultura popular e acadêmica na forma de coisas como a noção mencionada anteriormente de "correção política/politicamente correto". Esta fórmula de "correção política" (mesmo as conotações da frase) deriva diretamente da ortodoxia marxista que se estendeu da teoria econômica (Marx) para a política (Lênin) e então para a cultura de forma mais ampla (através da Escola de Frankfurt) e é baseada na premissa de que há uma luta contínua por uma variedade de grupos socioeconômicos oprimidos que são atualmente vistos como relativamente impotentes, por exemplo, mulheres, afro-americanos, hispânicos, membros da comunidade LGBT, pessoas com deficiência física e assim por diante. É seu objetivo coletivo (cada grupo individualmente) arrancar o poder socioeconômico daqueles que são considerados como possuidores dele no momento. Isto é baseado na ideia de "luta de classes" conforme delineada por Marx, mas aplicada à cultura de forma mais geral, e ainda assim muito mais restrita. A estratégia atual no Ocidente é criar um agregado dessas subclasses e forjá-las juntas em um movimento no qual os interesses reais desses grupos são sacrificados à causa comum focada no poder possuído por uma classe de liderança de políticos e ativistas profissionais — como Lênin projetou a estrutura. Apesar disso, no entanto, esses grupos são garantidos pela teoria marxista de lutar a boa luta, a luta moral, porque a dialética histórica (ou o "Deus" marxista, ou pelo menos um deles) está do lado deles. Portanto, lutar por sua causa é estar no "lado certo da história". Novamente, um conceito extraído da teoria marxista. Sua moralidade e sua vitória futura são garantidas pelo próprio fato de que eles são *atualmente* impotentes, ou podem ser levados a se sentir assim. É por isso que, por exemplo, os negros não podem ser considerados "racistas" ou as mulheres "sexistas", pelo menos de acordo com essa teoria baseada na dialética histórica marxista. Este livro deve atuar como um aviso aos vários "grupos de clientes" que a Esquerda remenda para a "luta" atual. Os Velhos Bolcheviques também incluíam muitos tipos "alternativos" de pessoas, todas as quais foram logo liquidadas quando se tornaram inconvenientes depois que o poder foi conquistado pelos agentes do Partido.
Então, dizer que o Marxismo "falhou" devido ao fato histórico de que a União Soviética falhou é perder o ponto maior e mais persistente do Bolchevismo — que é como um programa para a aquisição e perpetuação do poder político (e econômico) por e para uma elite governante pertencente a um quadro de agentes políticos. A esse respeito, o Marxismo e o Bolchevismo, seja qual for o nome, provaram permanecer uma ferramenta eficaz porque seus praticantes se tornaram especialistas em identificar e explorar as fraquezas da cultura estabelecida para miná-la e, eventualmente, substituí-la.
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