A Presença Incorpórea
Naquele livro verdadeiramente esclarecedor chamado Maha Yoga, de autoria de 'Quem', aparece uma passagem singularmente importante que registra uma breve conversa sobre a verdadeira natureza de Deus, ocorrida entre Bhagavan Sri Ramana Marashi e um questionador. A passagem é a seguinte:
'Alguém que não havia estudado os ensinamentos do Sábio, nem mesmo a antiga tradição, fez-lhe uma série de perguntas, uma das quais foi esta: "Você já viu Deus?" O Sábio respondeu, rindo levemente: "Se alguém tivesse aparecido para mim e dito 'Eu sou Shiva' ou 'Eu sou Rama' ou 'Eu sou Krishna', eu saberia que tinha visto tal pessoa. Mas ninguém me apareceu, dizendo-me quem era."'
É uma falha comum a muitos de nós que, como o questionador ignorante na citação acima, buscamos provar a nós mesmos a existência de algo tentando torná-lo um objeto de conhecimento. Não sabemos o que é o céu, o que é a mente ou o que nós mesmos somos, e assim procedemos a qualificar esses conceitos, limitando-os a algumas — ou muitas — características que podemos facilmente apreender com nossas mentes. Contudo, jamais buscamos questionar a natureza do suposto conhecedor dessas coisas. Quando se trata da questão de Deus, ou do criador do mundo, nós, como quem questiona, esperamos que um Sábio que tenha experimentado comunhão com Ele nos diga que Ele é isto ou aquilo. E se a explicação que nos é dada não condiz com a imagem limitada e fantasiosa evocada por nossas mentes, nos afastamos, seja decepcionados com Deus, seja desconfiados do Sábio, que assim deixa de atender a todas as nossas expectativas quanto a fornecer os detalhes sobre Deus, que nós mesmos secretamente acalentamos e que desejamos ver confirmados.
Há alguns que, mesmo nos mais elevados voos da experiência mística, ainda insistem em fazer de Deus um objeto de conhecimento, como quando o 'ego servo' é mantido para Bhakta, ou o 'ego conhecimento' para Jnana. Mas Bhagavan declara enfaticamente que ninguém lhe falou e se proclamou Deus. E a razão é que Deus é desprovido de todos esses conceitos que a mente desesperadamente se esforça para lhe atribuir, pois Ele é Deus unicamente porque é ilimitado por qualquer forma ou conceito; em outras palavras: Ele não é, e nunca poderá se tornar, uma mera construção do pensamento.
Se ponderarmos profundamente as palavras de Bhagavan, certamente seremos surpreendidos pela peculiar qualidade de positividade subjacente contida no que, à primeira vista, parece ser uma observação curiosamente negativa. Na verdade, porém, a mente do leitor é conduzida para além dos nomes de Shiva, Rama e Krishna, até que ele se depara subitamente, não com uma síntese elaborada e rebuscada das potências desses três Deuses, mas com um grande Vazio, que se abre a seus pés e se estende até o Infinito, não contendo nem Deus nem Coisa. E com uma facilidade e sutileza peculiares a todos os ensinamentos de Bhagavan, somos levados, a partir desse ponto de encontro abrupto com o vazio, a questionar a identidade da pessoa que se encontra assim, à beira dele. Pois em sua identidade reside a identidade de Deus: não pela visão, pelo tato, pela cognição ou por qualquer um dos sentidos, mas somente por Deus, que se autorrealiza como a natureza vazia da Consciência Pura e Infragmentada. É esse fluxo ininterrupto de Pura Consciência que é Deus e o Eu, e não pode ser apreendido nem mesmo pela consciência do Deus supremo, muito menos pela mente humana, pois não há ninguém a quem possa ser objeto de conhecimento, subsistindo como subsiste num Vazio sem limites, de Bem-aventurança sem forma.
É evidente, pela resposta que Bhagavan deu à pergunta "Você viu Deus?", que ele não viu, ouviu, tocou nem apreendeu Deus de forma alguma. A razão é bastante simples, embora difícil para a mente sequer vagamente pressentir: existindo como existe no Estado Supremo, ele não vê, não ouve e não tem consciência de nada, porque o Eu é sempre idêntico ao que vê; e a verdadeira natureza do Eu, sendo una com o Vazio, o Pleno, subsiste sem um segundo no oceano da Consciência Infinita, onipresente e repleto de bem-aventurança, desprovido de toda forma. Assim, Bhagavan, em sua resposta simples, porém convincente, identifica o Eu com o Vazio, no qual nem mesmo o Deus supremo pode existir para ser visto ou conhecido de qualquer outra forma senão pela plena autorrealização que revela Deus, finalmente, como uno com o Eu. E esse Vazio é a cavidade no Coração em cada formulação separada e individual que Maya, em Sua maneira misteriosa, imagina. Se essa cavidade for adentrada, o jiva individual se funde no Vazio e, como Bhagavan, não vê Deus, não ouve Deus, não conhece Deus: pois ele é verdadeiramente Aquilo na morada sem espaço, atemporal e bem-aventurada de Arunachala Shiva, que é a natureza Vazia do Eu.
Bhagavan enfatiza que a ideia conceitual que chamamos de Deus precisa ser abandonada para que possamos entrar e nos fundir com o Si Mesmo na cavidade do Coração. No verso 26 de 'Sad-Vidya', isso é expresso enfaticamente da seguinte forma: "Se o ego existe, tudo o mais também existe. Se o ego não existe, nada mais existe. Verdadeiramente, o ego é tudo. Portanto, somente a investigação sobre o que é esse ego é o abandono de tudo." E abandonar tudo é renunciar para sempre à falsa concepção de Deus, à qual Bhagavan, no dito citado no início deste artigo, tão belamente nega a realidade fora do reino ilusório sobre o qual o ego exerce domínio. Se essa grande verdade fosse compreendida e jamais perdida de vista — melhor ainda se fosse realizada por cada um de nós — todas as cisões cessariam, todas as diferenças seriam resolvidas e todas as preocupações se dissolveriam em um brilho de glória, no qual a natureza Vazia de todos esses conceitos seria conhecida e compreendida. Enquanto continuarmos a dar precedência a qualquer ilusão sobre qualquer outra — seja Deus, a Sociedade, o Progresso, a Civilização ou qualquer que seja nossa fraqueza favorita — estaremos acumulando montanhas de problemas e ainda mais razões para não nos harmonizarmos com nossos irmãos e irmãs que, em sua multidão, parecem existir fora de nós mesmos. A compreensão do Vazio inerente a todos esses conceitos separados, individualmente ou em conjunto, deve, em algum momento, ser alcançada; apegar-se a qualquer um deles e exaltá-lo acima dos outros é o caminho para um fanatismo estreito que gera a divisão que é a suprema blasfêmia. Pois não pode haver divisão do Real, visto que nele não há Nada que possa ser dividido.
O Chamado Divino, Bombaim, setembro de 1953.
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